Domingo, dia de ficar em casa e descansar. Mas, na verdade, para uma turma de deficientes visuais do Instituto dos Cegos do Ceará, foi um dia bem agitado, cheio de emoções e surpresas. Um dia para ficar guardado na memória.
Afinal, 11 torcedores do Ceará Sporting Clube tiveram a oportunidade de entrar no estádio Arena Castelão e viver a experiência do primeiro jogo do time pelo campeonato Brasileiro Série A em casa. Isso só foi possível graças a um projeto apoiado pela Unimed Fortaleza que une esporte e acessibilidade.
O Esporte Acessível surgiu a partir do projeto-piloto idealizado pelos alunos da Pós-Unifor. Neste piloto, os estudantes e o professor Vicente Júnior organizaram uma ação social com seis crianças deficientes visuais e seus acompanhantes para assistir a uma partida do Fortaleza Esporte Clube em fevereiro de 2017.
Esta ação ficou tão visada que o Ministério Público Federal no Ceará (MPF-CE), em parceria com 11 instituições, idealizou o projeto ?Esporte Acessível?, por meio da assinatura de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). No TAC, ficou definido que a iniciativa se destina a propiciar o acesso à Arena Castelão de deficientes visuais vinculados à Sociedade de Assistência aos Cegos (Instituto dos Cegos).
Entre as instituições parceiras está a Unimed Fortaleza, que, além de apoiar o projeto, ficou responsável por disponibilizar um profissional da saúde para prestar serviço médico aos envolvidos durante toda a ação. E, também, por traduzir em braile a camisa oficial do time e levar um fotógrafo para registrar todos os momentos vividos por eles.
O projeto contou com o jogo do Ceará vs São Paulo na Arena Castelão para sua primeira ação.
??Nós temos todo o aparato dos parceiros que nos apoiam na realização deste projeto. A nossa ideia é trazer periodicamente os deficientes visuais ao estádio para assistirem aos jogos de seus times. Com esse projeto, a gente consegue mostrar para toda a sociedade que a pessoa com deficiência pode estar em qualquer lugar. O nosso papel é trazer a acessibilidade para que eles possam desfrutar de mais momentos de lazer e se sentirem incluídos socialmente??, afirma o professor Vicente Júnior, responsável pelo Instituto dos Cegos.
Nessa ação, os deficientes visuais têm direito a: levar um acompanhante, transporte para deslocamento, receber camisas oficiais do time escrita em braile, um lanche durante a partida, assistir ao jogo em um camarote especial, ter acesso ao vestiário e ao campo antes da partida, e direito a um dos pontos principais do evento, que é a audiodescrição do jogo.
Audiodescrição é um recurso de acessibilidade que amplia a compreensão e a participação das pessoas com deficiência visual. Esse recurso consiste na tradução das imagens em palavras, por meio de uma descrição objetiva, que em conjunto com as falas originais, permite a compreensão integral do conteúdo.
No futebol, a audiodescrição já é utilizada em alguns estádios e, com a realização da Copa do Mundo no Brasil, esse tipo de acessibilidade tomou força e ganhou mais espaço. ??Desde 2015, nós temos feito algumas ações pontuais com a audiodescrição aqui no Ceará. Com a Copa, vimos que essa acessibilidade tem se ampliado mais e isso é uma grande conquista para os deficientes visuais. A nossa tecnologia é de radiofrequência, em que há um profissional na cabine de rádio fazendo a transmissão do jogo com uma maior riqueza de detalhes. É uma experiência única para eles??, destaca Klístenes Braga, audiodescritor.
A paixão pelo futebol começou desde pequeno. O coração do torcedor alvinegro Juan Pablo Fernandes Cruz, 15 anos, contagiou o da mãe, que passou a torcer pelo Ceará Sporting Clube e, também, a acompanhar os jogos do time pelo rádio com o filho. Juan é deficiente visual e, por meio do projeto Esporte Acessível, conseguiu ter uma experiência diferenciada no último domingo, 22 de abril.
??Eu já tinha ido ao Castelão uma vez com meus amigos e familiares para um jogo do Ceará, mas nunca tive essa oportunidade de ir ao estádio para conhecer vestiários, o campo e ainda acompanhar toda a partida por meio de audiodescrição. Estou bem ansioso para vivenciar todo esse momento??, conta Juan Fernandes.
A mãe e dona de casa, Fabiana Fernandes, 39, parecia estar mais animada que o próprio filho. Vestida com a camisa do time, ela nos conta a felicidade de poder assistir ao jogo com seu filho no estádio. ??Estou muito feliz que o projeto saiu do papel. A gente sabe o quanto é difícil sair com um filho deficiente visual; falta acessibilidade e inclusão social. Esse projeto nos faz acreditar que é possível ter momentos de lazer para quem é deficiente??, relata.
Fabiana conta a dificuldade que tem em proporcionar dias de lazer para o filho. ??A gente não tem muito o que fazer. Geralmente, nos fins de semana ele fica em casa escutando rádio, conversando com os amigos ou lendo em braile. Esse projeto está trazendo novas experiências e eles adoram. Eu, particularmente, fico até mais animada do que eles, pois para mim é motivo de felicidade vê-los felizes, principalmente meu filho. Isso não tem dinheiro no mundo que pague??, reforça Fabiana Fernandes.
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